segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Parte I – Abu Dhabi, a terra do trolha

Ok, não houve nem tempo nem paciência para escrever nada por isso este blog tem pouca ou nenhuma utilidade. Seja como for, para não dar o tempo como perdido aqui ficam umas breves apreciações sobre a estadia em Abu dhabi.

Comecemos pela terra e as suas gentes.

Parte I – Abu Dhabi, a terra do trolha.


Nunca estive num sítio onde os estereótipos se confirmassem com tanta regularidade.

Com apenas 20% de população local, abu Dhabi é uma terra estranha, sem história nem grandes locais de interesse. É verdade que o trabalho e o calor não convidavam a grandes excursões, mas também pouco havia para ver. Turismo fiz pouco, só mesmo uma visita rápida à maior mesquita do mundo árabe, impressionante por fora e ultra pirosa por dentro.
A cidade está toda em obras, com arranha-céus a nascerem diariamente O horizonte está coberto de andaimes e guindastes e as obras nesta altura altura do ano prolongam-se noite dentro (diziam eles que no resto do ano faz muito calor e só dá para trabalhar à noite). As obras andam a um ritmo impressionante, dando mesmo para reconhecer diferenças no curto período que por lá passei.


No meio dos poucos árabes que por lá deambulavam, uns vestidos a rigor outros mais americanos que o ronald macdonal, havia uma multidão de asiáticos. Tailandeses, nepaleses, indianos, malaios e indonésios às resmas. A maioria são trabalhadores precários da construção civil. Dia e noite avistam-se carrinhas cheias destes gajos a interligar as diferentes obras num ciclo de trabalho que parece ser interminável. Na hora da reza os relvados entre as grandes avenidas enchiam-se desta gente. Enquanto os muçulmanos rezavam os hindus lutavam pela pouca sombra disponível
Isto já para não falar nos “Expats” ingleses e alemães, que, segundo constam as más línguas, andam a fugir em grandes grupos do Dubai. Parece que aquilo está mesmo mau.


Isto é,de locais conheci apenas um, durante uns breves minutos, e tinha um sotaque tão americano que não deu qualquer espaço para sentir seja o que for.

No hotel, de salientar só meia dúzia de cowboys texanos, seguramente presentes para fechar qualquer negócio milionário, isto a julgar pelo sorriso de orelha a orelha que passeavam nas trombas.
Obviamente que no festival só estava a creme de la creme dos locais, todos gordos, embrulhados em lençóis que ficavam presos à saída dos seus maseratis, lamborguinis e ferraris. As gajas eram boas como o milho, todas produzidas e cobertas de ouro e diamantes, literalmente. No shoping, que eles orgulhosamente apelidam de Marina Mall, lá se vão avistando umas mais cobertas, mas na maioria bastante desnudadas. Segundos os árabes presentes na minha workshop a policia moral do emirados resigna-se a bloquear o facebook de vez em quando e pouco mais. A julgar pela promiscuidade das festas, noites nas discotecas e praias do hilton não será assim tão longe da realidade.

O calor era de morrer e a humidade ainda pior. Sempre que saia à rua esbarrava contra uma parede de água e calor intenso. 40 Graus durante o dia e 30 à noite. Dentro, sempre um frio de rachar com o ar condicionado a bulir a todo o gás. Resultado, no final do fesrtival andava tudo bastante renhoso com montanhas de lenços a montoarem-se nos poucos caixotes do lixo.


Acabo, ainda estou meio abananado da viagem, a falar no Emirates Palace, o edifício mais imponente da cidade e a central do festival. Como podem ver nas imagens o palacio é ultra luxuoso, uma coisa verdadeiramente incrível. Ouro por todo o lado. Até as escadas rolantes são douradas. Enfim, mais parecia o Vaticano do que outra coisa qualquer. De tudo o mais interessante era esta máquina que podem ver na fotografia. Se porventura alguém pensasse que faltava um bocadinho de ouro para abrilhantar o momento bastava inserir uns quantos milhares na caixinha e de lá saía uma barra de ouro verdadeira. Nunca vi nem ouvi falar de tal coisa.


Enfim, o festival foi bem mais interessante, mas isso fica para amanhã.

Digamos que o mais culturalmente interessante foram as conversas com os elementos da minha workshop. Sai dos EAU a conhecer melhor as gentes e costumes da Siria e Egipto, que fica também para amanhã, do que abu dhabi. Isso, por si só, diz tudo.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

As mil e uma noites


Não serão exactamente mil e uma noites. Alias, serão mais propriamente 12, um número ligeiramente mais modesto pois a crise não permite excessos. Também não será a Bagdade do século X, possivelmente ainda bem que assim o é porque a Bagdade de hoje está longe de ser o pico de uma civilização milenar, por assim dizer.


O que sei ao certo sobre Abu Dhabi? Pouco, muito Pouco. Sei que nesta altura do ano se sofre com os quase 40 graus durante o dia e 27 à noite. Sei que se situa numa pequena ilha na boca do golfo persa; que é a nova jóia da coroa dos emiratos, principalmente depois do Dubai ter ido à falência; e que não convêm ir a um restaurante com uma mulher a não ser que me case com ela antes (será pouco provável). De resto desconheço tudo e não tive tempo nem paciência para descobrir mais. Lá vai o tempo em que estas viagens vinham acompanhadas de dois meses de investigação e um bloco recheado de notas.


Ironicamente até já lá estive, ou melhor, por lá já passei. Foi em 2002, na viagem a caminho de Katmandu. Recordo-me que, embora adormecido pela viagem, deslumbrei-me com um terminal de aeroporto coberto de azulejos que ou eram portugueses ou pretendiam ser. Lembro-me de ver um bocado de areia e uma água azul clara enquanto o avião descolava. De resto não vi mais nada. A estadia foi curta e os meus sonhos viajavam por outras andanças bem diferentes. Desta feita vão deixar-me sair do aeroporto, ou melhor, espero bem que sim.

Viajo para a terra das quase mil e uma noites para ir trabalhar numa revista que cobrirá o Festival internacional de Cinema de Abu Dhabi (http://www.abudhabifilmfestival.ae/), um evento de luxo patrocinado pelos barões do ouro negro, onde não faltará absolutamente nada. Conta com a presença de grandes estrelas de Hollywood e outras não tão grandes (diria mesmo cadentes), estreias mundiais e uma colecção única de filmes vindos de todos os cantos do planeta.


A estadia será no modesto Hilton, que julgo ser suficiente para satisfazer as necessidades luxuosas de el Nando (hei de confirmar se vem com Paris incluída ou não). Será também esta uma estreia mundial, já que estou mais habituado a pensões de meia estrela, mas sempre com pequeno-almoço incluído (se considerarem torradas e chá morno pequeno almoço).
Não terei tempo para grandes aventuras pela cidade pois o trabalho não promete ser pouco (a revista infelizmente é diária). Mas sempre que possível tentarei explorar a região externa ao hotel, palácio das artes e mega shopping que acolherá o festival, com o intuito de conhecer as gentes que deambulam por aquela terra, e quiçá adquirir os direitos de extracção de uma mão cheia de poços semi-secos que um dia me tornarão milionário.

Tecnicamente a viajem ao deserto começou dentro de um táxi numa não muito exótica Sarajevo. Ontem completei a primeira peça para a primeira edição da Nisimazine Abu Dhabi, uma entrevista via telefone com Danis Tanovic, realizador de No Man´s Land, galardoado com um Óscar em 2001 (para ser aqui publicada depois do fim do festival, pois até lá os direitos de autor não são meus). Tudo começou com um puxão de orelhas, pois interrompi uma reunião e o agente do homem nunca o avisou da entrevista marcada à mais de uma semana. Enquanto se deslocava de táxi para outra reunião lá me dispensou uns minutos para me falar sobre a guerra e os efeitos colaterais na memória colectiva de todo um povo, isto nos intervalos duma tosse ranhosa de fumador compulsivo que só é possível ouvir na Europa de Leste.


Amanhã lá parte el Nando rumo aos Emiratos Árabes Unidos Pelo Petróleo (EAUPP) via, pela também muito pouco exótica, Frankfurt. Avizinha-se uma longa e penosa viagem, como todas as outras que no final valem sempre a pena.


Aceitam-se doações para o melhor desfrutar da ocasião.